Ponta Grossa – PR

Ponta Grossa, cuja origem repousa em um modesto posto de parada de tropeiros no século XVIII, possui atualmente 355.336 habitantes (IBGE 2020), sendo a quarta cidade mais populosa do Paraná, a nona da região sul e a septuagésima sexta do país. Hoje, a cidade é a quinta maior economia do Estado do Paraná e uma das maiores do Sul do país, resultado da forte atividade industrial e comercial, além do ecoturismo que está em franco crescimento, devido à generosa oferta de locais próprios para passeios ao ar livre e atividades como trekking, rapel, escalada e camping.

 O patrimônio natural singular, a pluralidade étnica e os elementos históricos presentes em suas manifestações culturais, são características marcantes da constituição de Ponta Grossa, que nasceu como um pequeno vilarejo junto ao Caminho das Tropas, rota criada para o comércio de bovinos e muares que eram levados do Rio Grande do Sul à São Paulo e Minas Gerais, ao longo dos séculos XVIII e XIX. O extenso e demorado percurso, também conhecido como Estrada Viamão-Sorocaba, que atravessava todo o planalto meridional paranaense, obrigava os tropeiros a fazer paradas para descanso, manejo e engorda do rebanho, além das pausas impostas pelas intempéries que impediam o seguimento da viagem pelos Campos Gerais do Paraná, como é tradicionalmente chamada a região até hoje. Local de belezas naturais excepcionais, com formações rochosas esculpidas pelo vento e campos ondulados, onde ainda pode-se encontrar pequenas concentrações de capões de floresta de araucária, além de sítios arqueológicos com pinturas rupestres. Este conjunto único de elementos encontrado apenas no Brasil, ao sul do trópico de Capricórnio, impactou o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que descreveu os Campos Gerais como “o paraíso terrestre do Brasil” ao conhecê-lo em 1820.

 Os locais de parada dos tropeiros, também chamados de “ranchos” ou “pousos”, começaram a atrair comerciantes para atender os viajantes, ao mesmo tempo que fazendas iam se estabelecendo no entorno da rota, contribuindo de modo efetivo para o aumento populacional da região. O agrupamento resultante da pressão demográfica crescente de algumas fazendas próximas, originou o Bairro de Ponta Grossa, que pertencia ao povoado de Castro. Em 15 de setembro de 1823, o bairro tornou-se uma freguesia independente. O nome refere-se a uma grande colina coberta pela vegetação própria que a distinguia, visível à distância pelos viajantes que diziam “estar próximos do Capão da Ponta Grossa”.

 Ao longo do século XIX a vocação urbana da localidade fora acentuando-se, impulsionada pelo crescimento da atividade comercial, enquanto a importância das fazendas declinava progressivamente. A freguesia foi elevada à categoria de vila em 1855 e de cidade em 1862. A partir de 1877 começaram a chegar levas de imigrantes, principalmente poloneses, alemães, russos, italianos, sírios, ucranianos, austríacos e portugueses, impulsionando a economia e trazendo novos elementos culturais. Em 1890, Ponta Grossa já tinha teatro, biblioteca e uma população de 4.774 habitantes. Um marco importante em seu desenvolvimento ocorreu em 1894, quando a estrada de ferro Paraná alcançou a cidade, ligando-a à Paranaguá. Cinco anos depois, foi a vez dos trilhos da linha São Paulo-Rio Grande chegarem à Ponta Grossa. Esse entroncamento ferroviário trouxe grande impulso econômico à localidade, tornando-a cada vez mais atrativa para empreendedores de diversos setores.  A cidade entra no século XX com cinema, bandas musicais, luz elétrica, associações beneficentes e hospital. Pouco tempo depois a cidade recebe calçamento, mercado, serviços de água e esgoto e demais obras de infraestrutura. A tendência expansiva se manteve pelas quatro primeiras décadas do século XX, motivo pelo qual recebeu a alcunha “Princesa dos Campos”. A trajetória de sucesso elevou a cidade ao posto de pólo regional do Estado do Paraná.

 Quase duzentos anos após a visita do naturalista francês aos Campos Gerais, os efeitos das sucessivas ondas migratórias mostram-se na drástica redução das matas e campos nativos, resultado da ocupação do solo, agricultura, pecuária e extração de madeira. A urgência em preservar o pouco que ainda restava do ambiente original, determinou a criação de uma Unidade de Conservação Federal com 213 km2 de área, denominada Parque Nacional dos Campos Gerais, que abrange os municípios de Carambeí, Castro e Ponta Grossa, com sede administrativa neste último. No Parque são realizadas atividades de educação ambiental e turismo ecológico, além de pesquisas científicas sobre a rica biodiversidade e suas estruturas geológicas ímpares. O Parque é um convite ao trekking, pois oferece trilhas para locais de grande beleza como o Balneário Capão da Onça, a apenas 10 km do centro de Ponta Grossa, formado por corredeiras e cachoeiras do Rio Verde. Os cânions, furnas, cascatas e afloramentos areníticos são abundantes na região, como o complexo do Rio São Jorge e a Cachoeira da Mariquinha – um conjunto de quedas d’água formadas pelo Rio Quebra Perna, que também dá origem a um dos locais mais famosos do Parque: a furna arenítica do Buraco do Padre, onde há uma imponente cascata de 30 metros de altura. O interior da furna é de fácil acesso por uma trilha curta, muito bem sinalizada e com passarelas de madeira que permite a visitação de turistas de todas as idades e capacidades motoras. O Buraco do Padre é um local muito adequado para contemplação, utilizado nos primórdios da colonização pelos padres jesuítas, como refúgio para meditação. O Parque possui outros belos locais como o Mirante dos Alagados, o Poço Encantado, a Toca do Morcego e a Fenda da Freira, além das Furnas Gêmeas e Furna Grande, que se distinguem das demais da região por não serem inundadas, contendo capões de mata com araucárias em seu interior.

 Além de estar inserida no Parque Nacional dos Campos Gerais, Ponta Grossa possui também o Parque Estadual de Vila Velha, situado a 20 km a sudeste do centro da cidade, onde estão os famosos Arenitos. Trata-se de um sítio geológico cujas formações rochosas foram erodidas pelas atividades eólica e pluvial ao longo de 340 milhões de anos, esculpindo um conjunto que lembra as ruínas de uma antiga cidade medieval, daí o nome do parque. Um dos Arenitos mais famosos é a Taça, considerado símbolo de Ponta Grossa. O parque também contém três furnas: enormes crateras que chegam a 100 metros de profundidade, inundadas com 50 metros de água, paredões abaixo. O interior da furna mais profunda é acessível através de um elevador panorâmico, que desce 54 metros até uma plataforma de onde, ao se olhar para cima, observam-se as cores da vegetação que surge em meio ao paredão e os raios de sol desenhando pequenos arco-íris no spray formado pelas gotículas de água que emanam das rochas.

 O patrimônio natural de Ponta Grossa também abriga rico acervo de atividade humana pré-histórica, como o sítio arqueológico Abrigo Usina São Jorge, situado no vale do Rio Pitangui, cerca de 15 km a nordeste do centro da cidade. Trata-se de painéis com pinturas rupestres com figuras humanas, de animais e motivos geométricos. A região dos Campos Gerais é um hotspot da arqueologia nacional, com 50 sítios catalogados, que estão sob pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

 Um outro aspecto importante, próprio da identidade de uma localidade é a relação dos seus habitantes com o Divino, que no caso de Ponta Grossa, é vivenciada através da fé católica, que permeia as tradições da cidade, desde sua origem. Assim, temos na figura dos monges andarilhos, agentes importantes da história local. Estes eremitas sábios que prestavam assistência espiritual, orientação moral e realizavam curas eram muito conhecidos entre os humildes e desassistidos dos locais por onde passavam. Assim foi com o monge peregrino João Maria de Jesus, que em sua passagem pela cidade, em 1898, foi fotografado por Herculano Fonseca, em um dos poucos registros disponíveis do milagreiro. Era conhecido como o monge dos excluídos, que ouvia, consolava e aconselhava o povo humilde, realizava curas  e falava em tom profético. No ideário popular, o monge peregrino teria alcançado uma idade muito avançada, conforme lê-se na fotografia, que foi amplamente reproduzida em todo o Sul do Brasil: Propheta João Maria de Jesus – 180 anos. 

 Andarilho solitário de outros tempos, que nada levava consigo, nada pedia e não pernoitava em nenhuma residência. Dormia sobre a pedra bruta, em cavernas ou na copa das árvores. Não aceitava dinheiro, apenas comida em pouquíssima quantidade e do mais frugal que houvesse. Nunca dizia de onde vinha, nem para onde ia e raramente passava mais de uma vez em um mesmo local. Não permanecia em lugar algum e partia mesmo que as condições climáticas fossem desfavoráveis. “Anoitecia, mas não amanhecia”, dizia o povo. Em Ponta Grossa, o monge peregrino esteve em uma gruta, no bairro de Uvaranas, onde ainda há um olho d’água. Após a passagem do eremita, esta água foi considerada milagrosa e batizados passaram a ser realizados com ela. A devoção ao monge resistiu à passagem do tempo e ainda hoje ocorrem batismos na gruta, além de muitos atribuírem a esta água, a cura dos seus mais diversos males. O Olho D’água São João Maria é um local de romaria, onde há inúmeras imagens de santos e santas – que denotam o sincretismo religioso da gruta – ao lado de muitas placas de agradecimento pelas graças alcançadas.

 Segundo pesquisadores, o monge retratado em Ponta Grossa surgiu alguns anos antes da Guerra do Contestado e era conhecido pelo mesmo nome de outro frei, surgido décadas antes deste, que a cultura popular uniu em uma só figura, o que explica a longevidade incomum a ele atribuída. As andanças e feitos do monge junto aos mais desfavorecidos, fez dele uma figura conhecida nos sertões do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás.

 Diante do patrimônio natural, histórico e da vocação progressista, é natural que Ponta Grossa tenha um movimento cultural expressivo, que pode ser melhor compreendido a partir das atividades das suas Unidades Culturais:

  • Villa Hilda: Sede da Secretaria Municipal de Cultura, com funções administrativas, de coordenação, planejamento e fomento de manifestações e atividades artístico-culturais da cidade. O local também oferece sala para exposições de artes visuais.
  • Centro de Cultura Cidade de Ponta Grossa: Espaço democrático para todas as manifestações culturais da cidade.
  • Casa da Memória Paraná: Preservação e exposição do acervo histórico documental de Ponta Grossa e região.
  • Memorial do Ponto Azul: Abriga o Setor de Artes Visuais, com ateliê e espaço expositivo para mostras individuais e coletivas.
  • Cine-Teatro Ópera: Casa de espetáculos com 3 auditórios.
  • CEU das Artes: Oferece à comunidade atividades culturais e esportivas.
  • Concha Acústica: Projetada pelo engenheiro e arquiteto ponta-grossense Carlos Bonfily e construída em 1938, atualmente é sede da Casa do Artesão e eventos de parceiros da Secretaria Municipal de Cultura.
  • Centro da Música: Abriga o Conservatório Maestro Paulino, a Orquestra Sinfônica e a Banda Lyra dos Campos, instituições musicais que estão no imaginário do povo ponta-grossense. Também é a sede do Coro Cidade de Ponta Grossa, do Coral das Meninas Cantoras e da Banda Sinfônica. Consiste em um espaço dedicado também a musicalização, com auditório e salas com isolamento acústico.
  • Biblioteca Pública Bruno Enei: Possui acervo com cerca de 70 mil exemplares para empréstimo e leitura no local, videoteca e acervo em libras e em braile.

 As Unidades Centro de Música e Biblioteca Pública formam o Complexo Cultural Jovani Pedro Mansini. Novas Unidades estão sendo preparadas e serão inauguradas em breve.

Além das Unidades Culturais, teatros e cinemas, Ponta Grossa tem vários museus, entre os quais:

  • Museu Campos Gerais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa: Focado na divulgação dos fatos relacionados à gênese ponta-grossense e preservação do patrimônio histórico.
  • Museu Época: Abriga peças sobre a história de várias regiões do país.

Museu de Arqueologia: Dedicado a Arte, a Arqueologia e a História da Antiga Civilização Egípcia, servindo de apoio didático aos professores e estudantes das escolas de 1º e 2º graus da região dos Campos Gerais.

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